Qual a relação da banda larga móvel com o sinal da TV digital?

O ano de 2018 se encerrou com uma polêmica a respeito da TV móvel digital. Apesar de a banda larga móvel — como a 4G e, futuramente, a 5G — ser vista com ótimos olhos pela perspectiva da conexão mobile, há um revés que gera receio: a possibilidade de que ela afete o serviço de sinal de TV digital devido à interferência nas faixas de frequência. É verdade que haverá prejuízo no sinal de TV pela internet?

Como o sinal de televisão analógico vem sendo desligado em diversas cidades brasileiras, muitas operadoras têm pedido autorização à Anatel para utilizar a faixa de 700 MHz — anteriormente usada pela TV analógica e leiloada em 2014 — para fazer a transmissão do sinal de internet móvel 4G.

No entanto, grande parte dos usuários tem se perguntado se há alguma relação entre o sinal de TV digital e a internet banda larga, pois temem que o desativamento do sinal analógico interfira na qualidade de suas televisões.

Para sanar todas as dúvidas e esclarecer de vez essa questão, separamos uma série de informações úteis que você poderá conferir neste conteúdo. Quer saber mais sobre o assunto? Então, continue a leitura do artigo!

Qual é o atual cenário da TV analógica e digital e da banda larga móvel no Brasil?

Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) autorizou que as antenas que transmitem a faixa de 700 MHz comecem a ser utilizadas para transmitir o sinal de internet banda larga móvel 4G e 5G, o que fará com que a qualidade do sinal seja otimizada de forma significativa.

TV analógica

A transferência da faixa da TV analógica para as conexões de internet está sendo chamada de “apagão analógico”. A expectativa é que no ano de 2019 já não existam aparelhos com esse tipo de sinal no território brasileiro, assim como já ocorre em vários países.

TV digital

A implementação da TV móvel digital, por sua vez, foi prevista para terminar em janeiro de 2019 em todas as cidades brasileiras. Dados indicam que todas as capitais brasileiras já contam com o sinal digital e que pelo menos 1.300 cidades já têm sinal de TV aberta 100% digital.

A migração para a TV digital ainda está em andamento, mas já é avaliada como bem-sucedida. Uma medida de destaque implementada pelo governo brasileiro foi a distribuição de kits com antenas e conversores digitais para famílias de baixa renda inscritas em programas sociais para que elas tenham acesso à programação de TV em sinal digital.

Assim, ao menos 93% das casas estarão aptas a receber o sinal digital, o que é uma exigência legal para que o sinal analógico seja desligado.

Em março de 2018, a ouvidoria da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) elogiou o processo de migração no Brasil e destacou que o exemplo deve ser seguido por outras nações que estão deixando o sinal analógico de lado e passando a adotar a TV digital.

Aliás, o país assumiu um papel de liderança em entidades como o Fórum ISDB-T Internacional, do qual participam 19 países que implantaram o sistema de TV digital. Assim, está ocorrendo a troca de experiências para a implementação e o desenvolvimento integrado de um padrão.

Já com relação ao restante da América Latina, o México e a Argentina são os países que mais têm se destacado em TV digital, com cobertura superior a 85% de toda a área demográfica.

Banda larga

Quanto ao acesso à internet 4G, 75% dos municípios já têm acesso à nova linha transmitida na faixa de 700 MHz. Esse processo de transição tem gerado melhorias notáveis na cobertura de internet móvel no Brasil, o que favorece, inclusive, o crescimento econômico do país.

Para outros países da América Latina, como o Paraguai e o Peru, o apagão analógico está previsto apenas para 2024. Nesses casos, a migração progressiva, que é a disponibilização da faixa de 700 MHz conforme a sua liberação, é uma boa solução, pois beneficia os consumidores que já podem contar com uma maior cobertura de acesso às redes móveis.

Nesse contexto, a próxima década será crucial para o desenvolvimento da internet móvel na América Latina, momento em que todos os países do continente terão concluído o processo de apagão analógico e migração para a TV digital e disponibilizado por completo a faixa de 700 MHz para a banda larga.

Qual é a previsão para que aconteça a migração?

Ainda não é possível saber com exatidão quando a sua cidade passará pelo processo de migração do sinal 4G e 5G para a faixa de 700 MHz. Isso porque, diferentemente do que já vem acontecendo com o desligamento do sinal de TV analógica, não existe um cronograma com datas específicas para a migração.

Assim, ocorrerão três etapas até que a transmissão de sinal da internet banda larga seja migrada, sendo elas:

  • desligamento do sinal de TV analógico;
  • remanejamento do sinal de TV digital aberta;
  • autorização da Anatel para o uso das antenas para a transmissão de internet 4G e 5G, a pedido das operadoras de serviços de telefonia móvel.

Quais são os problemas enfrentados em relação às interferências de sinal?

Apesar das vantagens do processo — que serão explicadas adiante —, há uma polêmica sobre o assunto. O que acontece é que, a partir do momento em que a banda larga móvel começar a ser transmitida em 700 MHz, haverá o risco de interferência no sinal de TV digital, que faz a transmissão dos canais abertos.

Esse, inclusive, é um receio que já foi confirmado pela Anatel. Além disso, a Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET), em parceria com a Universidade Presbiteriana Mackenzie, realizou um estudo em 2014 e concluiu que a possibilidade de interferência nos sinais realmente existe.

Entre os problemas que podem ocorrer estão os estalos no som da TV e o congelamento da imagem, por exemplo. Em casos de interferência extrema, o sinal da banda larga 4G pode até mesmo derrubar a transmissão dos canais de TV aberta. Nesse contexto, é visível que acontecem distorções no sinal de TV pela internet.

No estudo da SET, foram feitos experimentos com seis modelos de receptores digitais. Os mais antigos (fabricados até 2007) se mostraram mais sensíveis à interferência da faixa de 700 MHz. Nos casos em que a antena era interna, os problemas também foram mais críticos.

O fato é que essa situação não é exclusiva do Brasil. Em todos os países que passaram pela transição de TV analógica para TV móvel digital e que, ao mesmo tempo, estavam expandindo a cobertura 4G, houve interferências. Além disso, em geral, a implementação de filtros e a troca de cabeamento é eficiente na resolução do problema.

A interferência reversa, que é quando o sinal de TV digital acaba interferindo na banda larga, também pode ocorrer, o que causa lentidão no acesso à internet e até indisponibilidade da rede. Assim como no caso anterior, essa situação também tem solução, como a alteração de canais de frequência pelo roteador.

De que forma a digitalização da TV e a internet banda larga móvel serão beneficiadas?

Como foi dito, à medida que o sinal analógico for desligado e, por consequência, o sinal de TV digital for adotado pela maioria das pessoas, as antenas, que antes eram destinadas a transmitir sinal analógico, terão toda sua capacidade focada em otimizar os serviços de internet banda larga móvel, principalmente das bandas 4G e 5G.

O apagão analógico traz benefícios em duas frentes: primeiro porque a nova composição de sinal permite que as emissoras abertas transmitam suas programações para qualquer dispositivo capaz de receber o sinal, inclusive os smartphones. É por isso que costumamos chamar de TV móvel digital.

Além disso, em relação às bandas de internet, o uso da faixa de 700 MHz também apresenta vantagens. Como a frequência é muito alta, o 4G e posteriormente o 5G serão altamente potencializados. Inclusive, a faixa é capaz de propagar o sinal mesmo com grandes barreiras físicas.

Nessa frequência, a transmissão de dados pode ser de, no mínimo, 45 Mbps — três vezes mais do que era permitido anteriormente. Isso é sinônimo de velocidade e eficiência no processamento dos dados.

Há algum meio de evitar interferências nos sinais de banda larga e TV digital?

Nos países que tiveram esse tipo de problema, o uso de filtros nos receptores de TV digital e a alteração de canais de frequência pelo roteador foram eficientes para eliminar as interferências. No Brasil, ainda não se sabe se essa medida também será adotada, mas a Anatel já está buscando meios de minimizar o problema.

Inclusive, a agência aprovou, em 2014, um regulamento sobre a convivência dos serviços de TV móvel digital e de banda larga 4G com apontamentos sobre a utilização de filtros no receptor e no amplificador de sinal, a troca de posição da antena e o aumento da distância entre o terminal e o receptor, por exemplo.

Tendo em vista a resolução da Anatel e as conclusões do estudo conduzido pela SET, algumas sugestões para evitar as interferências são:

  • evitar manter os smartphones com sinal 4G próximos às antenas de TV;
  • priorizar o uso de antenas externas, que sofrem menos impactos;
  • observar se a antena está bem posicionada.

Como você pôde conferir neste artigo, o fim da transmissão de canais abertos em sinal analógico e o crescimento do uso de sinal de TV móvel digital são fatores que afetarão positivamente a qualidade do serviço. Apesar do problema de estabilidade com o sinal de banda larga móvel, as expectativas da migração são promissoras.

Não fique apreensivo quando o assunto for interferência no sinal de TV pela internet. Esse problema pode ser solucionado e, considerando os benefícios da transição, todos só têm a ganhar.

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Autor

  • Publicitário por formação, atua no setor de Marketing da Teletronix, uma empresa desde 1996 no mercado de radiodifusão, produzindo equipamentos para emissoras de rádio e TV.

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Sobre o autor

Bruno Faria

Publicitário por formação, atua no setor de Marketing da Teletronix, uma empresa desde 1996 no mercado de radiodifusão, produzindo equipamentos para emissoras de rádio e TV.

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